O projeto Ellas reúne memórias de mulheres inspiradoras, suas biografias e retratos utilizando o muro como suporte nas manifestações artísticas do stencil e lambe lambe.

Esse acervo é fruto de intervenções e outras ações realizadas em 2020 com o objetivo de dialogar sobre a vida das mulheres, combate aos ciclos de violência, visibilidade feminina, feminismo e questões LBT’s. A proposta é chegar a  um número considerável de mulheres retratadas para que mais pessoas possam conhecer mulheres que subverteram suas vivências marcadas pela opressão e que através de novas narrativas denunciam as violências de gênero, racismo, gordofobia, lesbofobia, anunciando outro horizonte possível para suas vidas e de tantas outras.

Nossa sociedade é marcada estruturalmente pelo patriarcado, que utiliza de estratégias sutis de apagamento e invisibilidade das resistências construídas cotidianamente por mulheres a atos mais gritantes envolvendo outros tipos de violência, como tipificado no artigo 7º da Lei Maria da Penha, violência física, psicológica, moral, sexual e patrimonial, no qual resultam em altos números de casos de feminicídio. O Brasil é o 5º país que mais mata mulheres. O ódio direcionado a nós, o apagamento de nossas histórias de resistências, vitimiza meninas, jovens e mulheres.

Entendemos que a arte possui um grande potencial transformador, além de aproximar as pessoas, é um canal de expressão de narrativas por meio de infinitas linguagens. A arte urbana, traz em seu histórico de ocupações das ruas a potência das lutas e movimentos sociais.  A arte tem não só o poder de narrar tais fatos, como de expandir histórias, aumentar alcances e possibilidades de ressignificação.

Acreditamos na educação como possibilidade de construção de uma cultura de paz e de Bem Viver. Através do diálogo e da conscientização, rompemos barreiras impostas culturalmente e construímos pontes de diálogo e respeito e um mundo de liberdade para as mulheres.

Consideramos a força inspiradora de mulheres que constroem as resistência no cotidiano, que rompem o ciclo de violência a partir do companheirismo de outras mulheres em suas comunidades, no grupo de mulheres, no movimento social, espaços onde a coletividade e solidariedade movem articulações, conversas e trocas de experiências que contribuem para o processo de empoderamento. A força dessas mulheres movem as estruturas e são capazes de alterar as realidades de morte e opressão, além de nos sensibilizar e fortalecer nas nossas lutas cotidianas.

O retrato, em stencil, dessas mulheres que são símbolos de força tem uma potência estética e de motivação. Os lambe lambes criados a partir de suas biografias, mobilizam as nossas vidas e de tantas outras mulheres, que se sentem representadas e reconhecidas através dessa arte.

Angela Davis, Malala Yousafzai, Laverne Cox, Frida Kahlo, Carolina Maria de Jesus, Alexandra Gurgel, Audre Lorde, Cássia Eller, Marielle Franco, Zanele Muholi, Bruna Motta, Minerva, Patria e María Teresa, mulheres que bordam a resistência em diversos continentes narrando vivências em relação à raça, classe e pautas identitárias de diversidade sexual.

Patria Mercedes Mirabal, Minerva Argentina Mirabal e Antonia María Teresa Mirabal, as irmãs Mirabal, conhecidas como Las Mariposas, foram ativistas revolucionárias da República Dominicana, que se opunham à ditadura de Rafael Trujillo e foram brutalmente assassinadas em 25 de novembro de 1960, data que se comemora o Dia internacional de eliminação da violência contra a mulher. O dia foi definido no I Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, realizado em 1981, em Bogotá, Colômbia. A data foi escolhida para fazer memória das irmãs Mirabal. Em 25 de novembro de 1991, foi iniciada a Campanha Mundial pelos Direitos Humanos das Mulheres, sob a coordenação do Centro de Liderança Global da Mulher, que propôs os 16 Dias de Ativismo em face da Violência contra as Mulheres, começando no dia 25 de novembro e encerrando no dia 10 de dezembro, data de aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.A popularidade das Irmãs Mirabal, somada ao aumento dos crimes, torturas e desaparecimentos daqueles que se atreviam a se opor ao regime de Trujillo fizeram com que o assassinato marcasse a história dominicana. As três combatiam fortemente aquela ditadura e pagaram com a própria vida. Seus corpos foram encontrados no fundo de um precipício, estrangulados, com os ossos quebrados. As mortes repercutiram, causando grande comoção no país.

Mesmo mais de meio século depois da morte das irmãs Mirabal, “ainda é tempo das borboletas”, tempo de erradicar a violência contra a mulher.

Zanele Muholi é uma artista e ativista lésbica sul-africana, autointitulada de ativista visual, que aborda a vida de lésbicas negras e outras identidades e políticas LGBTQI+ na atualidade da África do Sul.
O trabalho da artista, apesar de possuir o teor político de representar comunidades sistematicamente marginalizadas, é bastante intimista, tem como uma de suas principais e auto proclamadas missões reescrever a história LGBT sul-africana, de modo a mostrar ao mundo a existência de mulheres lésbicas na África do Sul, ressaltando também a presença de crimes de ódio contra essas pessoas.
O projeto mais conhecido de Zanele nomeado “Faces e Fases” foi criado em 2006, com o intuito de ampliar a história visual de pessoas sul-africanas – especialmente lésbicas, que até hoje possuem pouquíssima representação icônica fora do patamar patriarcal e racista, extremamente objetificante e fetichista, liderado por homens brancos.

Audre Lorde nasceu em Nova York em uma família de imigrantes do Caribe. Foi uma escritora negra, feminista e lésbica. Escreveu romances que abordam temáticas como feminismo e opressão, além de direitos humanos, amor, classe social, raça, sexualidade, gênero e saúde. Sua poesia é um espaço também em que ela se afirmar como lésbica e feminista negra.
Lorde desafiou feministas brancas, questionando seu ponto de vista sobre questões raciais, apontando as opressões a que as mulheres brancas submetiam as mulheres negras.
Sua poesia é forte e reflete conflitos internos e externos advindos de sua condição de mulher negra em uma sociedade marcada pelo machismo e pelo racismo.

Cássia Eller foi uma cantora, compositora e multi-instrumentista, uma das maiores representantes do rock brasileiro dos anos 90. Rebelde, ousada e arrebatadora, Cássia Eller deixou um legado, tanto pelos inúmeros álbuns gravados, quanto pela sua imensurável influência à música popular brasileira e ao rock. Na juventude trabalhou como secretária, garçonete e auxiliar de pedreiro antes de começar a cantar profissionalmente.
Assumidamente lésbica Cássia Eller sempre teve uma presença de palco bastante intensa, assumia a preferência por álbuns gravados ao vivo e ela era convidada constantemente para participações especiais e interpretações sob encomenda, singulares, personalizadas. Viveu o auge de sua carreira em 2001, quando sofreu um infarto do miocárdio, aos 39 anos de idade.

Marielle Francisco da Silva nasceu no dia 27 de julho de 1979, no Rio de Janeiro. Em sua carreira política, Marielle foi reconhecida internacionalmente, por ONGs como a Anistia Internacional, pela formulação de projetos de leis e pautas em defesa das mulheres pretas e faveladas, da juventude periférica e dos direitos da população LGBTQIA+. Foi presidente da Comissão de Defesa da Mulher e coordenadora da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj)
No dia 14 de março de 2018, Marielle Franco e o motorista Anderson Pedro Gomes foram assassinados. O assassinato de Mariele é notícia no mundo todo e gerou diversas manifestações que, mais de mil dias depois, continuam pedindo justiça e buscando manter seu legado vivo.
Quem mandou matar Marielle? E por quê?

Alexandra Gurgel, mulher lésbica, comunicadora, fundadora do Movimento Corpo Livre. É youtuber no canal Alexandrismos e autora do livro “Pare de se odiar: Porque amar o próprio corpo é um ato revolucionário”, o livro une diversos temas recorrentes do canal, todos baseados na história de vida de Alexandra. Fala principalmente sobre autoestima, de como aprendeu a se amar e de como o padrão oprime as pessoas. Seu canal também procura abordar temas relevantes sobre gordofobia, aceitação e amor próprio.

Frida Kahlo foi uma das mais importantes figuras da arte no século XX e umas das personagens mais significativas no âmbito político e cultural no México. Sempre foi apaixonada pela cultura e tradição de seu país e não hesitava em mostrar isso por meio de seus trajes, adereços e cores vibrantes. Teve influência da arte folclórica indígena mexicana, cultura asteca, marxismo e movimentos artísticos de vanguarda e também pintou muitos autorretratos, abordando temas de sua própria vida fazendo uso de cores fortes e vivas.

Carolina Maria de Jesus foi uma escritora brasileira, conhecida por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada publicado em 1960. Mesmo diante todas as mazelas, perdas e discriminações que sofreu ao longo da vida, Carolina revelou através de sua escrita a importância do testemunho, como meio de denúncia da desigualdade social e do preconceito racial.
Sua obra mais conhecida, Quarto de Despejo é uma crônica da vida na favela do Canindé, no início da “modernização” da capital paulista e do surgimento constante das periferias. Essa literatura documentária, pela narrativa feminina, em contestação, tal como foi conhecida e nomeada pelo jornalismo de denúncia dos anos 50-60, é considerada uma obra atual, pois a temática dá conta de problemas existentes até hoje nas grandes cidades.

Laverne Cox, é uma atriz norte americana e produtora de televisão, se tornou a primeira transexual a ser indicada na categoria Melhor Atriz do Emmy Awards. Graduada em Belas Artes pela Alabama School e já acumula cinco participações cinematográficas. Além de seu trabalho como artista, ela fala e escreve sobre direitos transexuais e outros assuntos atuais em uma variedade de meios de comunicação.
Angela Yvonne Davis é uma professora e filósofa socialista estadunidense que alcançou notoriedade mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos, dos Panteras Negras, por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos.
Em suas palestras sempre se refere ao sistema carcerário americano como um complexo industrial de prisões; aponta como uma das soluções para o problema a extinção do cumprimento de penas em presídios e como fator determinante da maioria de prisioneiros americanos serem de negros e latinos a questão da raça e classe social.

Malala Yousafzai é uma militante dos direitos das crianças, uma jovem paquistanesa que foi vítima de um atentado por defender o direito das meninas de ir à escola. Com 17 anos, foi a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz.
Em seu discurso na Assembleia de Jovens das Nações Unidas, deixou claro que a causa pela qual chegou perto de morrer permanece a mesma: “Nossos livros e canetas são as armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. Educação é a única solução”.

Angela Yvonne Davis nasceu dia 26 de janeiro de 1944, é uma professora e filósofa socialista estadunidense que alcançou notoriedade mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos, dos Panteras Negras, por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos.

Angela Davis candidatou-se a vice-presidente dos Estados Unidos em 1980 e 1984. Continuou sua carreira de ativista política e escreveu diversos livros, principalmente sobre as condições carcerárias no país.

Em suas palestras sempre se refere ao sistema carcerário americano como um complexo industrial de prisões; aponta como um das soluções para o problema a extinção do cumprimento de penas em presídios e como fator determinante da maioria de prisioneiros americanos serem de negros e latinos a questão da raça e classe social.

Confira o projeto “Vivas nos queremos!” no qual foi contemplado com o prêmio Cultura Arte e Movimento da Secretaria de Cultura de Marília a partir do edital com amparo na Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, Marília / SP no qual premiou projetos artísticos e culturais de conteúdos virtuais.

Referências e indicações:

  • Violência contra Mulheres e a Pandemia do Covid-19: Insuficiência de Dados Oficiais e de Respostas do Estado Brasileiro 

Grazielly Alessandra Baggenstoss, Leticia Povala Li, Lucely Ginani Bordon

Acesse: https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/view/4409

 

  • Violência Doméstica durante a pandemia de Covid 19

Fórum brasileiro de segurança pública

Acesse: http://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/05/violencia-domestica-covid-19-v3.pdf

 

  • Uma mulher é vítima de feminicídio a cada 9 horas durante a pandemia no brasil

Projeto Colabora

Acesse: https://projetocolabora.com.br/ods5/uma-mulher-e-vitima-de-feminicidio-a-cada-9-horas-durante-a-pandemia-no-brasil/

 

  • Lei Maria da Penha

Acesse: https://www12.senado.leg.br/noticias/entenda-o-assunto/lei-maria-da-penha

 

  • Medida Protetiva

Acesse: https://brunonc.jusbrasil.com.br/artigos/544108267/violencia-contra-a-mulher-o-que-sao-as-medidas-protetivas-de-urgencia

 

  • Cartilha Maria vai com as outras

Acesse: https://drive.google.com/drive/folders/1bMaBbfGjByoJ9cDEVWQKOXIDAiQHK5MY

 

  • Indicação de filme:

No tempo das borboletas (2001)

Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=p8nmPmcaIJ0